Entendo que os dirigentes do futebol brasileiro ainda não se deram conta!! Mas, acho que é uma questão de tempo pra admitir publicamente. A chance de
adequar o calendário para conciliar interesses de todas as partes no mercado é
quase nula. Compartilhando opiniões de alguns blogueiros, em nível nacional, analisem o seguinte:
Vamos admitir que os
campeonatos sejam recomeçados em 1º de julho, uma quarta-feira. Esta decisão está
condicionada à variáveis.
Haverá vacina para Covid-19?
Provavelmente não. Haverá remédio testado e com eficácia aprovada por
autoridades? Talvez o tal de Cloroxina!! Valerá o risco para atletas, comissões técnicas e público
mesmo que haja medicação disponível? Possivelmente não. Mas deixemos todas as
incertezas da saúde pública de lado só por um instante para um exercício
lógico.
Se os campeonatos forem
recomeçados em 1º de julho e houver partidas toda quarta, todo domingo, até 20
de dezembro, existirão 50 datas disponíveis para futebol. Considerando que não
faremos ninguém trabalhar no Natal, nem avançaremos sobre o calendário de 2021.
Precisaríamos, hoje, de 61
datas para fechar a temporada:
6 partidas em estaduais
·
11 partidas na Copa do Brasil
·
38 partidas no Campeonato Brasileiro
·
6 partidas na Libertadores (a considerar que
brasileiros chegarão somente às oitavas de final, situação altamente
improvável)
A menos que a humanidade
consiga superar todas as expectativas científicas no combate ao coronavírus, de
modo que o futebol seja recomeçado antes de 1º de julho, acabou a dúvida sobre
a possibilidade de recomeçar e concluir todas as competições como foram
previstas.
Muitos sonham com uma
solução "fácil" para o problema. Por que não adequar o nosso
calendário ao europeu? Ou cancelar os estaduais? Ou, então, por que não mudar a
fórmula do Brasileirão para que ele acabe mais rápido? Adoramos mata-mata! Na
realidade, nada disso é fácil.
E se mudarmos a fórmula do
Brasileiro?
Para a emissora que comprou
os direitos de transmissão – nomeadamente, no caso do futebol brasileiro, Globo
e Turner –, o produto Campeonato Brasileiro tinha a previsão de 380 partidas.
Isso é importante para a
venda de pay-per-view e da assinatura de TV fechada direto ao consumidor.
Também importa para anunciantes que compraram pacotes de publicidade envolvendo
a exibição na aberta.
Reduzir a quantidade de
jogos, seja qual for a fórmula escolhida, altera o produto que foi vendido para
essas emissoras. Pode haver redução do valor pago pelo campeonato. Hipótese que
não interessa aos clubes.
Para o clube que contava com
38 partidas em seu calendário, sendo 19 delas em casa, alterar a fórmula
impacta a entrega que estava prevista para patrocinadores. Também reduz a
quantidade de partidas feitas como mandante, portanto prejudica bilheterias e
sócios-torcedores.
E se cancelarmos os
estaduais?
A lógica é a mesma. Em
campeonatos em que há direitos de transmissão valiosos – casos de São Paulo,
Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul –, o produto foi vendido para
a televisão com certa quantidade de partidas. Reduzir a entrega a emissoras pode
reduzir valores pagos.
A considerar que, unidos, os
clubes considerados pequenos também têm voz. Não por acaso, oito dirigentes consultados pelo jornalista Gustavo Garcia, no GloboEsporte.com,
manifestaram-se pela continuidade do estadual do Rio de Janeiro. Eles precisam
da conclusão do Carioca para ganhar dinheiro e sobreviver à temporada.
Com o agravante político de
que o estadual é a razão da existência da federação. As entidades ficam com
parte dos direitos de transmissão, parte das bilheterias. Encerrar os
campeonatos por aqui significaria causar prejuízos às federações. E a CBF
representa a soma de todas elas.
Ok, e se os estaduais forem
concluídos sem a participação dos considerados grandes? Ou com times formados
por categorias de base? Os torcedores não dariam bola para as competições. E o
produto perderia valor em seus direitos de transmissão, patrocínios,
bilheterias.
E se adequarmos ao
calendário europeu?
Se a mudança fosse feita de
maneira calculada, talvez funcionasse. O futebol brasileiro ainda precisa medir
com um pouco mais de precisão os prós e contras da adequação, que faria
campeonatos começarem em agosto e terminarem em maio do ano seguinte. Mesmo que
se decidisse pela alteração, no entanto, não dá para fazê-la de repente.
Clubes fizeram seus
orçamentos considerando um cenário de janeiro a dezembro. Há um fluxo de
recebíveis (transmissão, patrocínio, bilheteria, sócio-torcedor, atletas), e há
um fluxo de pagamentos (salários de atletas, treinadores e funcionários, custos
administrativos).
Não dá para mudar essa
estrutura financeira de um mês para o outro. A televisão pagaria em 2020 por um
campeonato que só terminaria em maio de 2021? Certamente, não. O atual
modelo de distribuição do dinheiro prevê que 30% são pagos
apenas no fim da competição, com base na tabela, enquanto 30% são repassados
mensalmente conforme a quantidade de jogos transmitidos. Só 40% são fixos e
adiantados.
Nenhum clube da primeira
divisão nacional sobrevive sem 60% da cota de televisão prevista para 2020. Não
há como reduzir custos drasticamente, de um mês para outro, a fim de adequar o
planejamento a um calendário europeu. Talvez no futuro. Hoje, não.
O que diz a CBF?
Não haverá como conciliar
interesses de todas as partes. Não se trata de contar datas no calendário e
apertar competições. Mesmo num cenário razoavelmente otimista – pois ninguém
garante que será seguro para a população e para os clubes haver campeonatos de
futebol em 1º de julho –, esta é uma questão que precisa considerar dinheiro e
política.
A questão não é mais se
haverá como executar todas as competições tal como elas tinham sido vendidas
para emissoras e patrocinadores, mas quem sairá menos prejudicado na inevitável
adequação do calendário. Clubes grandes? Pequenos? Federações?
Walter Feldman,
secretário-geral da CBF, recebeu esta pergunta no Bem,
Amigos. Tendo em mente que hoje é impossível dar uma data para o
recomeço das competições, mas sabendo do entrave em termos de calendário, a
preferência da confederação está do lado de quem?
O secretário disse que se
trata de uma "escolha de Sofia" – expressão que remete ao romance do
escritor William Styron, publicado em 1979, em que uma polonesa em um campo de
concentração é forçada por um nazista sádico a escolher qual de suas duas
crianças executar.
Feldman não respondeu no
Bem, Amigos diretamente quem tem a preferência da CBF. Em vez disso, apenas ressaltou que a entidade tem a
responsabilidade de preservar todo o sistema do futebol.
– A CBF ela é responsável
pela organização do sistema do futebol. São 700 clubes inscritos, 557 em
atividade, é uma cadeia produtiva que envolve mais de 53 bilhões de reais,
0,72% do PIB brasileiro. São centenas de milhares de jogadores profissionais de
todas as áreas, trabalhadores de todos os tipos. Que faz com que nós da CBF
articulados com as federações e os clubes compomos um sistema. Esse sistema tem
que ser preservado a todo custo mesmo em momentos de crise dramática como a que
estamos vivendo – diz Walter Feldman.
Fontes: globoesporte.com e Blog do Rodrigo Capelo.
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